quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A MINHA INFÂNCIA: redescobrindo a importância da brincadeira


RELATO DA MINHA INFÂNCIA


Nasce no interior de União do Palmares- AL, cidade natal dos meus pais, mas devido as oportunidades de emprego minha mãe veio para a capital trazendo-me juntamente com ela. Vivi em minha cidade de origem até os meus três anos de idade, depois eu vim para Maceió, e estou até hoje.
Eu fui uma criança muito alegre e espontânea, mas em relação a brincadeiras eu geralmente brincava sozinho porque a minha mãe não me deixava muito ir para a rua brincar com meus amigos, nem mesmo permitia que eles viessem para a minha casa brincar comigo.
Mas eu não fiquei frustrado por isso, apesar de que faz muita falta um amigo de verdade para brincar. Eu não me importava muito por não brincar com os meus amigos, porque tive a oportunidade de usar sem nenhum limite a minha imaginação para criar amigos imaginários e invisíveis, amigos esses que eu criava e recriava todas as tardes na hora da brincadeira. Kishimoto( 1996) diz que:
A brincadeira de faz-de-conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem, em torno de 2/3 anos, quando a criança começa a alterar o significado dos objetos, dos eventos, a expressar seus sonhos e fantasias e a assumir papéis presentes no contexto social. O faz-de-conta permite não só a entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras. É importante registrar que o conteúdo do imaginário provém de experiências anteriores adquiridas pelas crianças, em diferentes contextos. ( p. 39)
Tenho lembranças de uma árvore que era a minha melhor amiga, pois esta mesma árvore por muitas vezes se transformava em diversas coisas, ora um combatente de guerra ou um super-herói como Batman, Super-Homem, Homem-Aranha, enfim todos os personagens que eu assistia na televisão e achava um máximo, a minha admiração era tanta que muitas vezes eu até mim sentia um deles com super- poderes, visão raio- laser. Levinzon( 1989) mostra que:
Brincando, portanto, a criança coloca-se num papel de poder, em que ela pode dominar os vilões ou as situações que provocariam medo ou que a fariam sentir-se vulnerável e insegura. A brincadeira de super-herói, ao mesmo tempo que ajuda a criança a construir a autoconfiança, leva-a a superar obstáculos da vida real, como vestir-se, comer um alimento sem deixar cair, fazer amigos, enfim, corresponder às expectativas dos padrões adultos.

Bomtempo( 1996) complementa expondo que:
Finalmente a brincadeira de super-herói pode ser considerada uma forma especializada de jogo de papéis ou sociodramático. Entretanto, enquanto encorajamos as crianças a desenvolverem outros tipos de jogos de pápeis, brincar de super-herói é, muitas vezes, visto como prejudicial, caótico ou violento. Esta brincadeira, porém, não é má, ao contrário, oferece numerosas oportunidades para a criança obter um sentido de domínio, bem como prevê benefícios comumente associados ao jogo dramático. Assim as crianças aumentam suas habilidades lingüísticas, são levadas a solucionar melhor os problemas e desenvolvem a cooperação. ( p. 66)
Se a árvore do quintal da minha casa falasse eu estaria perdido, pois foram tantos os segredos revelados para ela. Esta árvore foi uma grande amiga durante muitos anos da minha vida, mas infelizmente o meu pai teve que cortá-la devido ao tempo que ela tinha e também por causa do cupim que a deixou totalmente oca por dentro.
Outra brincadeira que eu adorava era brincar de escola, como geralmente eu brincava sozinho, eu sempre era o professor. Para brincar eu pegava um pedaço de de madeira que se transformava em quadro e alguns pedaços de gesso para ser o giz, eu tinha diversos livros e vários alunos imaginários, quando os meus primos e minhas primas iam para minha casa a nossa brincadeira sempre era de escola, tinha até briga para ser o professor, mas sempre era uma deliciosa diversão.
Suponho que venha daí o meu interesse pela docência, eu gostava tanto de brincar de escola e de ser professor, que hoje estou fazendo um curso para ser pedagogo.
Benjamim( 1989) faz várias reflexões acerca do mundo mágico das crianças fazendo alguns apontamentos para determinados aspectos desse universo infantil tais como: a criança que lê, a que chega atrasada, a que lambisca, a que anda de carrossel, a desordeira e a criança que se esconde.
E dentre esses diversos aspectos eu destaco o dar leitura, pois é algo que devemos lançar um olhar mais atento porque infelizmente nem todas as crianças tem acesso a livros de literatura, principalmente as oriundas das camadas mais pobre da nossa sociedade. Esta fala me remete ao projeto de estágio que desenvolve juntamente com dois colegas, em uma instituição situada no bairro do Clima Bom, que atende a Educação Infantil.
O Projeto intitulado “A leitura na Educação Infantil: o desenvolvimento do hábito e do gosto pela leitura”, no qual a justificativa pela temática se dá pelo o que expus acima, assim como a demanda expressa da instituição, e mais restritamente a pedido da professora da turma que acompanhei, como também de questões detectadas durante as observações inicias tais como: a falta de estímulo e concentração das crianças para leitura, o trato didático- pedagógico dado pela docente para o ato da leitura e da ausência de uma cultura letrada na escola.
A escola possui uma sala de leitura, porém o ambiente desta sala é desagradável e desinteressante para as crianças. O mobiliário da sala deveria ser adequado para cada faixa etária das crianças assim como: os livros, as revistas, os gibis, os gêneros textuais, os títulos.
A sala de leitura é pequena, porém o espaço que fica enfrente a esta sala é grande e bem ventilado, aconchegante, pois bem é um espaço que pode e deveria ser totalmente aproveitado na escola. Contudo isto na prática não ocorre, as leituras e os momentos para leitura são todos feitos na sala de aula; como se a sala de aula fosse o único espaço propício para leitura. E ressalto também que as salas de aula desta instituição são todas pequenas para a quantidade de alunos que a mesma atende.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil- RCNEI( 1998, vol. 3), organizando o espaço físico de forma atraente e aconchegante, com almofadas, iluminação adequada, livros de diversos gêneros, de diferentes autores, obras, revistas, histórias em quadrinhos, jornais, trabalhos de outras crianças etc, sendo que as crianças devem ter livre acesso a este espaço.
Em relação a organização do ambiente para leitura Maricato( 2005, p. 26) defende que:
Ao contrário de uma biblioteca para adultos( silêncio e imobilidade), na biblioteca infantil as crianças podem circular, falar e interagir com o adulto que o ajudará a encontrar o caminho para a leitura. Um espaço no qual a criança tem que ficar quieta sentada na cadeira e sem se relacionar com os livros a criança acaba associando a leitura à obrigação e não a um ato prazeroso.

Para que o momento da leitura se torne agradável é preciso que o ambiente da sala de leitura, da sala de aula, ou qualquer outro espaço da escola, seja um ambiente propício para o desenvolvimento dessa atividade. Assim como mostra Verdini:
Para que o espaço da sala de aula seja lugar de prazer e de condições necessárias às diferentes aprendizagens, inclusive a da leitura, é preciso oferecer mínimas condições de ambientação, de cuidado com a sala, de sua preparação e adequação às práticas pedagógicas. O espaço já conta ele mesmo,como elemento formador, como referencial de posturas e aprendizagens. Daí que um lugar reservado para ser o canto de leitura revela- se instrumento importante à formação de leitores, podendo ter pequeno e selecionado acervo, a ser cuidado e utilizado por todos, em momentos programados, e também aproveitado pelos que terminam antes as atividades do dia.

Ao propor este Projeto de Intervenção voltado para a leitura na Educação Infantil eu estava visando o ato da leitura em seus mais diversos contextos e gêneros textuais, sendo estes adequados para um trabalho dinâmico, prazeroso e reflexivo junto com as crianças, pois sabemos que as mesmas não tábulas rasas, mas sim portadoras de todo um aparato intelectual, cognitivo e cultural. Por isso consegue realizar um trabalho consistente, produtivo e mais que tudo um trabalho criativo com as crianças.
A experiência deste estágio veio para que eu pudesse refletir e questionar alguns pontos importantes referente a Educação Infantil, assim como o respeito as necessidades e aos limites das crianças, o mundo infantil, e acima de tudo desenvolver um olhar aguçado e crítico ao observar as crianças e os seus comportamentos.
Guardo em meu coração esta incrível e facinante experiência, o trabalho com esta temática que desenvolve em paceria com colegas que compartilham deste mesmo sentimento, nesta instituição de Educação Infantil nos proporcionou colacarmos em prática tudo o que aprendemos na Universidade e nas nossas vivências e experiências de vida como educadores.
Observei durante o desenvolvimento das intervenções que as crianças constroem a sua personalidade também enquanto brincam, pois as mesmas possuem atitudes e comportamentos que a definirão futuramente. Algumas dessas crianças apresentaram atitudes de liderança, de rejeição, de timidez, de egocentrismo e de companheirismo, ou seja, as crianças criam, recriam, produz e reproduz comportamentos enquanto brincam, que irão perpetuar durante toda a sua vida, e que irá definir a sua sua personalidade e o seu comportamento com e para as outras pessoas do seu meio social.


Na escola Bom Pastor








Referências



BENJAMIM, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1989.
BOMTEMPO, Edda. A brincaceira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da representação, do imaginário. In: KISHIMOTO, T. M.( org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
KATO, Mary A. Como a criança aprende a ler: uma questão platoniana. In: ZILBERMAM, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da (orgs). Leitura: perspectivas interdisciplinares. 5ª. ed. São Paulo: Ática, 2004.
KISHIMOTO, T. M.( org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
LEVINZON, G. K. O significado dos super-heróis para as crianças. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Psicologia Social e do Trabalho – IPUSP, 1989.
MARICATO, Adriana. O prazer da leitura se ensina. Criança. Brasília. s/v, n. 40, p. 18-26, set. 2005.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998.

VERDINI, Antonia de Sousa. A sala de aula como espaço de leitura significativa. ONG Leia Brasil, 2006 . Disponível em: